Opinião Rotary Brasil abril de 2020 Era de mudanças ou mudança de Era?
O mundo passa por intensas transformações e o Rotary precisa acompanhá-las para se manter relevante
Paulo Eduardo de Barros Fonseca*
O planeta passa por um momento de profunda mudança. Desde a Revolução Industrial, no século 18, a humanidade não vivenciava uma transformação tão intensa e rápida, proporcionada, sobretudo, pelos avanços científicos e tecnológicos. Transformação essa que, inclusive, tem influenciado no comportamento das pessoas. Esse cenário, que vem de fora para dentro, impõe a todos os segmentos da sociedade a necessidade de que mudanças de dentro para fora sejam realizadas, provocando um processo de profunda ruptura de padrões. Alguns autores afirmam que o mundo não está vivendo uma era de mudança e, sim, uma mudança de era. Esse pensamento talvez evidencie a magnitude do momento que estamos vivenciando. A tecnologia, o avanço científico e a internet mudaram a sociedade, rompendo padrões ao tornar o mundo totalmente conectado e digital. Exemplos disso são as mudanças nos modelos de negócios e de trabalho. Até a pouco tempo, era impossível imaginar que a maior empresa de transporte coletivo do mundo não tivesse nenhum veículo. Que a maior rede de hospedagem não tivesse uma cama sequer. Que o maior portal de vendas não tivesse um produto em estoque. Isso, necessariamente, nos faz refletir sobre conceitos que, até a pouco tempo, tínhamos como certos, simplesmente porque o mundo vive uma espécie de revolução – agora tecnológica – em que as organizações, na forma como foram concebidas, estão sendo desafiadas.
OPORTUNIDADE Talvez seja possível fazer uma comparação entre essa mudança e o aquecimento global, que sabemos que está ocorrendo, mas cujos efeitos não sentimos em nossa pele o tempo todo. De qualquer forma, nas duas situações, o ponto de virada está muito mais próximo do que imaginamos, embora exista uma diferença singular entre elas. No caso do aquecimento global, a próxima página pode ser um pouco caótica e com consequências devastadoras. No caso do Rotary, é uma grande oportunidade. Por estar inserido no contexto mundial, o Rotary está sujeito a essas mudanças disruptivas e, para continuar sendo reconhecido como a mais relevante organização não governamental do mundo, precisa procurar se adaptar à realidade contemporânea. É fato, o mundo de hoje não é o mesmo de 1905, quando o Rotary foi fundado. Se há mais de um século fomos pioneiros em um modelo de liderança no servir baseado em conexões pessoais, hoje essas conexões são uma rede que transpõe de maneira global as barreiras culturais, linguísticas, geracionais e geográficas – e compartilha a visão de um mundo melhor. Ocorre que a mudança de padrões, além de acelerar o ritmo das inovações tecnológicas, cria novas oportunidades de conexão e prestação de serviços. É preciso saber aproveitar essa oportunidade. É preciso ser assertivo e dizer: eu quero fazer parte disso de forma ativa.
DESAFIO O grande desafio do momento é saber aproveitar as oportunidades que se abrem com a mudança de era para que, em se quebrando os paradigmas do passado, porém, sem mudar seus valores – companheirismo, integridade, diversidade, serviços humanitários e liderança –, o Rotary siga sendo relevante. Há mais de um século, ao externar sua preocupação em manter o Rotary cumprindo seu papel e sua missão, Paul Harris disse: “Este é um mundo em mudança. Nós devemos estar preparados para mudar com ele. A história do Rotary deverá ser reescrita muitas vezes”. Para tanto é preciso ser mais estratégico e buscar reconhecer uma visão do clube – que é o núcleo ativo do Rotary – ao identificar, por exemplo, seus pontos fortes e fracos, sua vocação e a necessidade da comunidade. Esse reconhecimento – necessário e oportuno –, além de ajudar a quebrar os paradigmas do passado, resultará em uma ação, tanto interna quanto externa, mais dinâmica e eficaz, pois permitirá que os próprios rotarianos entendam melhor seu papel na organização e seu lugar no mundo moderno.
MOMENTO DE MUDANÇA Se quisermos expandir nosso alcance, ampliar nosso impacto e aumentar o engajamento de todos os envolvidos em nossas atividades, este é o momento de sermos menos resistentes às mudanças e, em contrapartida, mais críticos e analíticos em relação ao nosso envolvimento e participação nesse processo, notadamente quanto àquilo que estamos fazendo – ou não – para tornar o Rotary melhor, maior e mais eficaz. Somente assim estaremos preparados para viver e desfrutar deste momento repleto de oportunidades, pois a todos nós compete honrar o passado e abraçar o futuro do Rotary para mantê-lo não só relevante, mas sobretudo próspero. Acrescenta-se, mais uma vez lembrando Paul Harris, que “para tornar realidade o seu destino, o Rotary deverá ser evolutivo e, em algumas ocasiões, revolucionário”. Com uma visão clara dos desafios que o Rotary e o mundo enfrentam, façamos essa revolução do e para o bem, pois no Rotary juntamo-nos a líderes, trocamos ideias e entramos em ação. O Rotary somos nós!
*Governador 2006-07 do distrito 4563 e associado ao Rotary Club de São Paulo Liberdade, SP, o autor foi um dos líderes de treinamento brasileiros durante a Assembleia Internacional deste ano. |